De iniciativa do mandato da deputada federal Dandara (PT/MG), hoje (25) foi realizado o seminário “Enfrentamento dos efeitos climáticos extremos nas cidades” na Câmara Municipal de Uberlândia. O evento foi proposto por meio da Comissão de Participação Legislativa (CPL) da Câmara dos Deputados e em parceria com o vereador Igino (PT). O evento responde a uma demanda da sociedade uberlandense em discutir os eventos climáticos extremos e intensos, que vem impactando o cotidiano da cidade e trazendo insegurança aos cidadãos.
“Esse é um debate urgente. A cidade de Uberlândia viveu ontem uma tragédia iminente com a morte da influenciadora Jhei Soares depois de ser arrastada por conta das enxurradas, que são recorrentes na Avenida Rondon. É preciso pensar ações imediatas, como a implantação de um sistema de alarmes para alertar a população diante das chuvas, e a longo prazo construir uma cidade aliada ao desenvolvimento sustentável, mais arborizada, com a implantação de corredores verdes e de projetos de infraestrutura baseados no conceito de “cidade esponja”, ou seja, soluções naturais para reter água da chuva, impedindo alagamentos e enxurradas fortes, que destroem todos os anos o asfalto em diferentes pontos na cidade. A atual gestão da Prefeitura gasta uma média de R$ 400 mil todo ano para consertar o asfalto da Av. Rondon. É preciso uma solução definitiva diante de eventos climáticos extremos”, explicou Dandara.
A deputada federal também lembrou que os eventos climáticos estão mais frequentes e intensos. “Nós vivemos quatro alagamentos na Avenida Rondon em dois meses, sendo que o último vitimou uma pessoa. E é importante lembrar que quando a Av. Rondon alaga, o Morumbi alaga também, a ocupação Elisson Prieto, no Glória, também, regiões em que a população é muito mais vulnerável”, disse. Dandara lembrou que Uberlândia é a segunda maior cidade de Minas Gerais e como polo logístico tem uma grande participação na emissão de gases poluentes e alertou sobre o fato de Uberlândia estar situada na região do Cerrado, em que o processo de urbanização se intensificou muito.
A deputada enviou, no dia 21 de Novembro, um ofício à Prefeitura solicitando informações sobre o que a gestão municipal tem feito em termos de ações de adaptação a eventos climáticos extremos na Avenida Rondon Pacheco. “Esse pedido de informações também foi enviado no ano passado. Até hoje não teve nenhuma mudança efetiva no sentido de assegurar a vida e a segurança das pessoas”, disse.
O professor Daniel Caixeta, representante da Organização da Sociedade Civil (OSC) Associação Eco-Eco (Economia Ecológica), Doutor em Desenvolvimento Econômico com ênfase em Economia Ecológica, explicou que as mudanças climáticas são o que chamamos de desequilíbrio climático do planeta. “Todos os cenários hoje apontam que a Terra vai ultrapassar o limite de 1,5 grau de aquecimento global, estabelecido pelo Acordo de Paris. Até o final desta década talvez alcançaremos esse limite . Temos um centro de urgência para resolver esse problema. Não há mais espaço para negacionismo climático”, disse. Caixeta também salientou que hoje não há um consenso entre os líderes mundiais de quem precisa se esforçar mais para enfrentar o aquecimento global. E lembrou a importância do empenho do nosso país. “O Brasil é o 5º país que mais emite CO2 do mundo, temos a maior parte da maior floresta tropical do mundo, o país mais megadiverso, e temos significativa parcela da água doce do mundo”, pontuou.
“A Ciência mostra que as cidades são os espaços mais vulneráveis aos eventos climáticos extremos e que atingem, principalmente, as populações mais vulneráveis. Esses eventos acabam se tornando intensificadores de desigualdades ambientais. Precisamos criar um senso de urgência para criar uma economia de adaptação, apostando em soluções baseadas na natureza”, finalizou Caixeta.
A professora Ana Paula Macedo de Avelar, professora do Instituto de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal de Uberlândia, Doutora em Economia Industrial e da Tecnologia, explicou por que os problemas globais têm que ter soluções locais, problemática que está dentro do conceito de Cidade Inteligentes e Sustentáveis. “Como aliar a tecnologia à promoção de cidades inteligentes e sustentáveis como foco na prevenção e mitigação dos eventos climáticos?”, indagou. A professora compartilhou alguns exemplos, realizados em outras cidades, de como informar a população para se proteger desses eventos e salvar vidas, como a implementação de sistema de sirenes, já usado na cidade de Petrópolis. Ana Paula, inclusive, citou que existe um programa do governo federal chamado Defesa Civil Alerta, que está sendo testado por alguns municípios que pode ser utilizado em Uberlândia. Além disso, o uso de inteligência artificial para gerir dados sobre índice pluviométrico, frequência de chuvas, etc criando modelos de prevenção das possíveis catástrofes, foi apontado pela palestrante.
“Você não vai resolver os problemas das enchentes da Rondon na Avenida Rondon. Tem que pensar nas regiões exteriores, pensando na construção de estruturas de infiltração e pontos de retenção. Não existem soluções simples.” Essas foram as palavras do professor Heitor Siqueira Sayeg, do Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia e Doutor em Geociências e Meio Ambiente, que também expressou a sua preocupação diante da desinformação sobre as questões mais fundamentais dos estudos da geologia em sala de aula. “É preciso apostar em comunicação permanente e difusa para além dos temas ambientais, em jornais, revistas e diversos meios de comunicação para enfrentar os problemas ambientais atuais”, disse.
Maria Elisa Guerra, professora na Faculdade de Arquitetura e Design da Universidade Federal de Uberlândia e Doutora em Geografia, focou a sua explanação sobre o conceito de cidade esponja e também colocou a importância da construção do plano diretor municipal para garantir a construção de uma cidade inteligente e sustentável.